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terça-feira, 11 de maio de 2010

Um cenário underground para ser descoberto


                                                       Fernanda Toffuli
     Os meios de divulgação dessa cultura são as músicas e a literatura


     “Se tu souberas que lembranças amargas, que pensamento desflorou meus dias. / Oh! Tu não creras meu sorrir leviano, nem minhas insensatas alegrias”. / Lágrimas da vida, Álvares de Azevedo.
     Com roupas escuras, contrastes, poemas e romantismo, os chamados góticos, cultuam o lado melancólico e o grotesco da vida, uma vez que o ideal de contraste entre morte e vida, amor e dor sempre existiu ao longo da história, sendo uma angústia comum da alma humana. Exemplos mais comuns desses contrastes acontecem nas artes, como o movimento da Renascença, e na literatura, como o Romantismo, refletindo a idéia de opostos.
     Já no século XX, com os ideais existencialistas de filósofos sobre a real essência do homem, essa idéia de “sentimento de vazio” se solidificou, sendo mais comum entre as décadas de 1970 e 1980. Após o término da “explosão do movimento Punk” no mundo todo, iniciou-se um estilo alternativo de músicas, conhecido como “pós punk”, e consequentemente o “dark”, fazendo com que alguns grupos de pessoas, geralmente jovens, formassem um meio alternativo para ouvir músicas, conversar e fazer poemas melancólicos, geralmente devido ao descontentamento que tinham com a realidade. Essas pessoas não tinham a ideologia de ser contra a cultura existente, como o movimento “punk” foi, mas eram favoráveis ao modo diferenciado de encarar a realidade, um modo obscuro da vida, formando assim o universo underground.
     “Esse estilo teve toda sua força no final dos anos de 1970 e início de 1980. O rock gótico se caracterizava ao destilar melancolia, tendo por base letras sombrias, inspiradas no romantismo e no horror”, explica Dalto Fidencio, 38 anos, poeta e adepto da subcultura..
     Esse estilo atrai muitas pessoas ainda hoje, sendo caracterizado na sociedade como tribo urbana. Dentro do contexto da tribo, vários elementos foram sendo introduzidos ao longo do tempo, como a literatura voltada para o romantismo do século XIX, a música melancólica, arquitetura com estilo neo-gótico como, por exemplo, as catedrais, o visual rebuscado e sombrio transmitidos para acessórios e ornamentos como o das vestimentas.
    Os principais meios de divulgação dessa subcultura são as músicas, geralmente estrangeiras e os poemas, sendo melancólicos e obscuros, voltadas para o romantismo, a vida e a morte.
    No Brasil, essa cena está se solidificando e, em algumas capitais é possível encontrar bandas que fazem letras e arranjos baseados nessa temática.
    Na literatura pode-se notar a influência de escritores do romantismo, tais como emoção, amor platônico e a subjetivismo. Atualmente, escritores como Stephen King e Anne Rice também possuem elementos góticos, em livros como “Entrevista com o vampiro”, de Rice, e “ A dança da morte”, de King.
     Como os góticos são uma tribo urbana, geralmente seus adeptos são jovens e decidem se conhecer e viver de acordo com suas normas e sua identificação visual, não representando uma idéia contra a sociedade massiva, mas apenas diferenciada, por isso levam o nome de subcultura, sendo que o principal problema é o preconceito da sociedade. “As pessoas são muito conservadoras, e as roupas pretas fazem uma ligação com o não saudável. Tudo o que é estranho sempre é queimado. Tudo o que agride visualmente assusta as pessoas”, opina Marcelo Ronconi, 25 anos, estudante de filosofia e músico.
     Possuindo um senso de humor e uma visão critica, as pessoas adeptas são difamadas como “satânicas”, devido aos seus gostos voltados para o lado misterioso da vida e o visual sombrio, caracterizado pelas roupas fetichistas ou com características do medieval, com cores escuras, uso de saias, sobretudo e coturnos. “Minha mãe é evangélica e sofre preconceito na própria igreja, porque acham que sou satânico e acabam falando que ela não tem moral para opinar, já que ela deixa entrar ‘o corvo’ dentro da própria casa, e isso não tem nada a ver”, desabafa Alessandro de Paula, 20 anos, conhecido como “Anjo” dentro da cena.
     Apesar da excentricidade da cena, a sociedade deve lembrar que as pessoas que aderem a este estilo, também possuem uma visão acerca dos fatos cotidianos, sabendo mesclar seus direitos e seus deveres como cidadão. “O gótico é normal, trabalha, tem vida e faz pagamentos! Não é preciso que a sociedade tenha preconceito apenas por um gosto diferente”, salienta Daiara Feitosa,19 anos, adepta da cena underground.
Informações:

     Algumas bandas brasileiras: Plastique Noir (CE), Scarlet Leaves (SP),Escarlatina Obsessiva (MG), The Knutz (RJ), Zigurate (PR), entre outras, sendo que no Vale do Paraíba encontramos Borhevol (Pindamonhangaba), Dark Dream (São José dos Campos) e Elegia ( São José dos Campos).

    Poetas com temáticas obscuras: Ann Radcliffe, Edgar Allan Poe, Lord Byron, Charles Baudelaire,Florbela Espanca, José Manuel Maria Barbosa du Bocage, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Cruz e Sousa , Alphonsus de Guimarães entre outros.

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